segunda-feira, 4 de abril de 2011

Os Jetsons, rumo à pré-história

Giselle Carvalho


O mundo experimenta um acelerado processo de mutação. Fato perceptível em escala universal, mesmo que, de maneira inversamente proporcional, poucos saibam teorizar essas mudanças. Elas afetam o mercado de trabalho, as relações sociais e de consumo, habitação, automóveis, moda, a territorialidade. Materializa, inclusive, questões que sempre pareceram pertinentes apenas à esfera da imaginação.



Hoje, já é possível olhar o mundo dos Jetsons com certa familiaridade. Por sinal, tão próximo à realidade que se vislumbra, que já paira a hipótese de que os carros voadores, trabalho automatizado, cidades suspensas, robôs integrados à família, comunicação tele-presencial, entre outros aparatos tecnológicos, se materializem em tão pouco tempo que a família que introduziu no imaginário coletivo esteja relegada a ares pré-históricos para as próximas gerações. Os Jetsons podem se tornar os Flinstones do futuro.




Resta saber se essa nova sociedade que se delineia em velocidade impressionante funcionará de maneira tão harmônica e eficiente quanto à retratada no desenho animado produzido por Hanna-Barbera entre os anos de 1962 e 1963. Alguns vislubram um mundo tão eficientes quanto o dos Jetsons. Outros, veem essas mudanças de maneira apocaliptíca. A resposta definitiva, no entanto, só virá com o tempo.



Os franceses Pierre Lévy e Jean Baudrillard são os principais expoentes dessa divergência teórica sobre esse mundo em construção. Com visões antagônica sobre esse mesmo fenômeno, Lévy apresenta um mundo onde há uma co-dependência entre virtual e atual, como ele prefere chamar a noção de realidade. Baudrillard, no entanto, avalia que virtual e real são energias opostas, que se repelem.



Os dois assumem posições tão opostas que o sociólogo Cláudio Novaes Pinto Coelho chega a afirmar que "se Baudrillard é o profeta do fim, Lévy é o profeta do futuro, do que ainda não existe (...). Lévy não pensa o virtual num confronto direto com o real: estabelece relações entre o virtual e o atual. O virtual é a concretização da capacidade criativa presente no virtual. O real é a concretização do que já é possível. Baudrillard afirma a existência de um processo de esvaziamento do real, substituído pelo virtual (mundo artificial criado pela tecnologia digital)."




Por respeito a uma das boas lembranças da minha infância, prefiro acreditar nas teses futuristas de Pierre Lévy. Tomara que, se ele estiver certo, minha casa funcione a partir da eficiência de Rose e a eu me torne uma versão melhorada de Judy Jetson. Por enquanto, da vida dos Jetsons, só dispenso a chefia do Sr. Spacely.

















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