A questão vai muito além das impressões temporais provocadas pelo excesso de atividade cotidiana e mesmo que o dia tivesse 48 horas - uma máxima popular - a noção de insuficiência temporal continuaria ali, intacta, irrefutável, absoluta, cada vez mais preceptível. A velocidade "seniana" que o mundo adotou desde o advento/aperfeiçoamento dos processos tecnológicos e a popularização progressiva da cibercultura, inseriu a sociedade em um universo tão mutante que conseguiu alterar até mesmo a forma como, até então, os horários se dividiam. A impressão é que é que o ciberespaço também unificou o tempo. Ali, nada para.
Não há dia, noite, madrugada. É um organismo "vivo", pulsante, ativo... 24 horas por dia. Empresários, empreendedores buscam inspirações, testam propostas, procuram aliados, identificam futuros funcionários, concorrem, fracassam, emergem. "Pesquisadores e estudantes do mundo inteiro trocam ideias, artigos, imagens, experiências, observações." Cidadãos se conhecem, (re) encontram-se, relacionam-se, desvinculam-se em canais de conversação.. Jornalistas produzem informação, perdem a detenção dela. Consumidores afoitos disputam serviços, produtos, se aliam para, juntos, ter acesso ao que lhe parecia inacessível e, depois, descobrem novos sonhos de consumo para hoje - amanhã, afinal, nunca se sabe. E há um emaranhado de gente cuidando para que a novidade certa ao nascer do sol.
Tudo tão onipresente e instável que pensadores como Pierre Levy (Cibercultura, editora 34), assumem que "é impossível prever as mudanças que afetarão o universo digital". A única essência estável na cibercultura é, paradoxalmente, a constância da velocidade da transformação.
Constituiu-se um universo paralelo. Há duas vidas, real e virtual, cada vez mais siameses, interdependentes, cada vez mais semelhantes... em problemas e benesses. Já não é possível dissociá-las. Não há poder de escolha. A co-habitação é fato. Já não há fronteiras. A vida caiu em domínio público.
Giselle Carvalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário